domingo, 27 de outubro de 2013

Maternidade x carreira

O Tales foi um bebê muito planejado. Engravidei quando quis, porque quis, foi uma escolha muito consciente fruto de uma vontade que sempre existiu em mim, e que foi amadurecendo e se tornando real depois que conheci o Julio. Eu sempre achei super natural, antes de me tornar mãe, que bebês fossem pra escolinha muito cedo. Todo mundo faz, deve ser fácil, deve ser o certo. Tolinha.

Desde que comecei a planejar a gestação eu sabia que tiraria minha licença maternidade de seis meses e junto tiraria duas férias acumuladas propositalmente para esse fim, o que me renderiam 8 meses em casa. Bem suficiente, não? Não.

Até hoje, um ano e meio depois que voltei a trabalhar, sofro de uma dor silenciosa e diária quando ele vem se despedir para ir pra escola. Pra mim, isso não é o natural, e não tente me convencer do contrário. Discursinhos do tipo: “Ah, porque criança que vai pra escola é mais independente, é mais esperta, é mais isso e mais aquilo” me dão vontade de vomitar. Não acho que uma criança pequena precise se desenvolver pedagogicamente. Criança pequena tem que brincar em tempo integral, sem regras, sem cobranças, sem horários, aprontar, comer terra, cair, se sujar. Tem que ficar grudado na mãe se sentir que precisa, mamar em verdadeira livre demanda, se sentir seguro por saber que a mãe estará lá sem prazo pra ir embora. Isso deve dar uma segurança incomparável. Eu considero isso como sendo o ideal, deveria ser a regra pelo menos nos 2 primeiros anos de vida, e não a exceção. Não consigo achar que meu filho estará melhor se precisar cumprir horários pré definidos, sendo cuidado por uma pessoa que não o conhece, que cuida simultaneamente de várias outras crianças, e que mesmo que o faça com carinho, não tem conexão emocional alguma com ele. Se você acha que alguém assim cuidaria tão bem quanto você, sorte sua, aposto que você sofre bem menos do que eu.

Eu tenho um bom emprego, tenho estabilidade, ganho bem mais do que algum dia imaginei que ganharia, trabalho com pessoas com quem tenho muito prazer em conviver, tenho uma carga horária menor do que a maioria das pessoas que trabalham na iniciativa privada. Fazer carreira não é meu objetivo, não tenho problema em admitir que pretendo continuar batendo cartão naquela mesma repartição até o final dos meus dias úteis. Desde que comecei a trabalhar onde trabalho, a síndrome do domingo a noite simplesmente não me persegue mais. Eu estou exatamente onde eu queria estar. E é aí que entra o meu eterno dilema pessoal. Eu sou feliz trabalhando onde trabalho, muito provavelmente eu jamais conseguiria (sem anos de dedicação que eu não quero ter) algo parecido se abandonasse esse cargo. Me faz bem sair todos os dias e encontrar quem eu encontro, fazer o que eu faço, ter paz de espírito, a qual eu devo boa parte à tranqüilidade que eu sinto por ter o emprego que tenho.

Acontece que, pelo menos uma vez por mês, me volta a sensação de que está tudo errado, de que eu fiz a escolha errada, que meu lugar era em casa com o meu filho. Eu sei que nasci pra isso, pra maternar em tempo integral. Nada no mundo me realizou mais do que ser mãe. Mas eu precisei fazer uma escolha, que eu considero que tenha sido muito consciente, mas foi uma escolha. E saber que é uma escolha, por um lado, me conforta: faz com que eu sinta que está comigo o poder de mudar meu destino quando eu quiser. O mercado é cruel? O mundo é capitalista? A sociedade vai me julgar? Sim, mas no final quem decide sou eu! Eu poderia largar tudo, dar um tchauzinho pro pessoal da repartição e ficar em casa. Ninguém aqui morreria de fome. Teríamos um padrão de vida bem baixo, evidente, mas daria pra viver. Eu acho, no mínimo, hipocrisia negar que isso é uma opção. Dói, mas eu prefiro assumir que, mesmo não tendo certeza de que estou fazendo a coisa certa, eu escolhi trabalhar fora. E já que eu escolhi, não faz sentido algum ficar me queixando, mesmo que eu sofra às vezes. Não é o que eu considero ideal, mas é o que eu quero fazer.

Eu solidarizo com as pessoas que deixam de lado por alguns anos seus planos profissionais para ficar com os filhos. Eu também os invejo, confesso. Assumir que os filhos são seu projeto de vida mais importante é algo admirável. A mim só resta torcer para nunca me arrepender da escolha que fiz. Até aqui o saldo é bastante positivo e enquanto eu estiver sentindo que estamos felizes vamos levando dessa maneira.

2 comentários:

  1. O que mais me dói na minha decisão de, por enquanto, trabalhar fora o dia inteiro é que posso perder o primeiro passinho do Lucca, posso perder sua primeira palavra, posso perder momentos únicos e que jamais poderei voltar atrás... mas é uma escolha afinal, e oque poderemos fazer? A final nascemos com instinto materno, mas vivemos num mundo pós-moderno que nos trás grandes feridas no coração. Escrevo esse comentário chorando, enquanto escuto (provavelmente uma das últimas vezes nesse horário numa 5ª feira) meu filho no berço...

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  2. Vanessa, você está falando de mim!!!!!! É isso! Minha situação é a mesma que a sua e não passo um mês inteiro sem a reflexão "será que é isso que devo fazer?". Sinto culpa por ter de deixar minha filha em uma escola, em período integral, e por mais que eu tenha saibamos que nossa vida e a deles é assim, que fazemos o melhor que podemos, que escolhemos as melhores escolas, enfim... a culpa é minha companheira desde então. Mas vamos em frente!

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